quinta-feira, 7 de junho de 2012

1° Seminário internacional de formação e capacitação em cultura: 28/05, conferências de Cláudia Leitão e de Emmanuel Wallon

Abertura com Deolinda Vilhena e Irène Kirsch/J.Prado
Claudia Leitão
Claudia Leitão, Deolinda Vilhena e Irène Kirsch


Emmanuel Wallon e Angela Andrade
Roseni Sena
fotos Irène Kirsch


O Teatro Vila Velha recebeu a abertura da primeira edição do Seminário Internacional de Formação e Capacitação em Cultura. O evento tem como objetivo formar gestores e produtores culturais num momento em que as políticas de financiamento da cultura ganham relevância. As conferências de abertura foram ministradas por Cláudia Leitão, Secretária de Economia Criativa do Ministério da Cultura e Emmanuel Wallon, um dos maiores especialistas das politicas culturais na França.

A gestão sozinha, sem reflexão, é uma coisa perigosa, iniciou Cláudia Leitão afirmando sobre a importância da realização de seminários de formação como este. Com uma reconhecida trajetória no campo cultural, Cláudia Leitão assumiu em 2011 a gestão da nova secretaria do Ministério da Cultura, e é sob este ponto de vista que profere a conferência Por um Brasil Criativo: reflexões sobre a institucionalização e a construção de políticas públicas para a economia criativa brasileira.


A economia criativa contempla dinâmicas culturais e econômicas, abrangendo setores cuja atividade resulta em um ato criativo; deve alimentar e retroalimentar a diversidade. O desenvolvimento regional deve estar articulado com a criatividade brasileira. A gestora destacou que o Brasil representa a 6ª economia do mundo e ocupa a 35ª posição entre os países exportadores de bens criativos. A secretária afirma que os princípios da economia criativa brasileira são a diversidade cultural, sustentabilidade, inclusão social e inovação. O setor também enfrenta ao menos cinco desafios. A ausência de dados é o primeiro deles. A nova secretaria do MinC está se articulando com o IBGE para levantar informações e construir indicadores. O segundo desafio reflete a importância do estímulo ao fomento de empreendimentos criativos. São apontados ainda como desafios: a educação para competências criativas; a criação e adequação de marcos legais para os setores criativos; e a melhoria da infraestrutura do ciclo de bens e serviços.
Cláudia Leitão apresentou em seguida o Criativa Birô e o Brasil Criativo, programas para o desenvolvimento da economia criativa que estão sendo implementados pelo MinC. Os Criativas Birôs são centros de apoio aos profissionais na elaboração de modelos de negócios, disponibilizando capacitação, informações, consultoria na área de gestão e assessoria técnica e jurídica.

Emmanuel Wallon ministrou a segunda conferência do seminário com mediação de Angela Andrade que foi sua orientanda de Doutorado, Preparar o imprevisto, antecipar o inédito: a formação dos administradores culturais diante das mutações dos sistemas de produção e dos circuitos de intercâmbios artísticos. Emmanuel Wallon, é professor da Université Paris Ouest Nanterre, consultor do Ministério da Cultura da França e outras instituições. O pesquisador destacou que durante muito tempo os estados centralizaram a administração das artes, mas no século XIX os artistas na França e na Europa  passaram a ter mais liberdade de criação. Com a emancipação da arte, o trabalho do artista não precisa mais se conformar aos modelos estabelecidos pelo Estado.
Emmanuel Wallon lembrou a dificuldade de se delimitar o campo cultural para explicar que a administração cultural abrange um campo ainda maior, chegando a ter intersecções com outras áreas, a exemplo da economia, a educação e o meio ambiente. Devido a essa interface com outros setores, os procedimentos da administração cultural devem ser regularmente revisados para acompanhar as mudanças que influenciam as condições de produção e circulação das obras. O conferencista relatou que a própria criação de cursos de formação em cultura na França foi uma resposta a uma demanda de mercado.



Emmanuel Wallon destacou que após cinco anos de reestruturação, o Ministério da Cultura da França tem uma estrutura mais global e efetiva e citou algumas ações importantes, como o fato de o Estado francês financiar Escolas de Administração e Comércio nas quais há formação em administração cultural. Apesar desses esforços, o campo de estudos ainda está longe da atuação das artes. Descentralização é a palavra-chave quando se trata de administração cultural. É preciso transferir a gestão do centro para as coletividades. Os franceses não entendem que não é a homogeneidade que faz com que uma nação se reconheça. Não existe coletividade possível sem o reconhecimento das diferenças, observou. Durante a conferência, também foram apontados alguns desafios a serem enfrentados pelo Ministério da Cultura da França, como o de investir, cada vez mais, recursos próprios em cultura e ampliar a abertura dos orçamentos à participação privada, sem deixar de levar em consideração o compromisso público.


Emmanuel Wallon apontou alguns aspectos importantes para a formação em administração cultural, como o conhecimento dos marcos jurídicos (direito público e privado, propriedade intelectual, entre outros) e a noção de que embora a cultura seja um campo de sensibilidade, também constitui um campo de negociação entre pessoas. Finalizando a conferência, o professor ressaltou que uma boa formação em gestão cultural valoriza o diálogo com outras profissões e formas de pensar e deve estar sempre relacionada ao momento da prática. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário